
Este é um novo teste ao excecional domínio vocal, ao apurado sentido de composição e à desenvolta plasticidade da atriz fundadora do Ensemble, depois dos fulgurantes monólogos e solos que foram pontuando a sua carreira – do tour de force pessoano da Carta da Corcunda para o Serralheiro de Turismo Infinito e Sombras à demasiado humana Eu Não, de Samuel Beckett, ou a esse repositório de dor de Dama d’Água, de Frank McGuinness. Mas nesta Voz Humana também Carlos Pimenta – acompanhado por Raquel Castro, realizadora do filme-ensaio Soundwalkers – propõe uma evasão do naturalismo que informa o texto de Cocteau, ensaiando um novo investimento audiovisual e colocando em tensão os 80 anos volvidos sobre a escrita deste monólogo em que a tecnologia – o telefone – detém um papel central.